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Passados dez anos do pior atentado terrorista nos Estados Unidos, o horror da destruição de um dos mais importantes símbolos da sociedade americana ainda parece chocar o capitão Dan Daly, do Corpo de Bombeiros de Nova York. Ele participou nesta sexta-feira (9) de um bate-papo via internet promovido pelo Consulado americano no Rio.
O terror estampado no rosto das pessoas e a espessa nuvem de fumaça que envolveu as torres gêmeas foram as primeiras entre as várias imagens que marcariam para sempre a vida de Daly, que atuou nos trabalhos de resgate às vítimas e hoje é oficial reformado. Uma das lembranças que mais lhe perturbam é a imagem das pessoas que se encontravam nos andares acima de onde as torres foram atingidas. Sem ter como descer, elas tiveram que escolher o modo como morreriam: ou se atiravam ou seriam queimadas.
- Uma das imagens mais emocionantes e terríveis foi a das pessoas que ficaram presas acima do ponto de impacto. Elas achavam que, se subissem para os andares mais altos, seriam salvas por helicópteros. Infelizmente isso não era possível pela grande quantidade de gases. Elas estavam prisioneiras. Muitos tiveram que escolher como morrer.
Daly estava entre as centenas de bombeiros que se depararam com uma impressionante pilha de destroços do tamanho de um prédio de 12 andares e com a cortina de fumaça cinzenta que ofuscou o sol forte que brilhava na manhã daquela terça-feira.
Além da dificuldade de resgatar corpos em um terreno totalmente instável, os bombeiros nova-iorquinos tiveram que superar a tristeza pelos colegas mortos. No total, 343 socorristas perderam a vida naquele dia.
Daly lembra o caso do padre John, capelão dos Bombeiros, que dava a extrema unção a um socorrista atingido por uma pessoa que se jogou das torres. Enquanto rezava pelo colega, ele também foi ferido na queda de um escombro e acabou morrendo horas depois.
Bombeiros enfrentam problemas de saúde
Muitos bombeiros que atuaram nos resgates do World Trade Center desenvolveram câncer ou problemas respiratórios por terem inalado fumaça contaminada por gases tóxicos. Hoje eles contam com atendimento psicológico gratuito. Daly criticou a postura do governo americano, que ameaça não pagar mais o tratamento para câncer com a justificativa de que não há provas de que a doença tenha sido causada pela fumaça.
- Uma das coisas que nos chatearam é que nos disseram que a atmosfera não era tóxica. Há alguns meses o governo disse que não financiaria o tratamento de câncer porque não havia prova de que estavam relacionados aos trabalhos de resgates. Espero que um relatório que traz o número de bombeiros doentes traga uma compreensão maior sobre o tema. A resposta não foi suficientemente boa, foi menor do que deveria ter sido.
Mas o rosto consternado do capitão Daly, ao relembrar a tragédia, se iluminou diversas vezes quando o oficial lembrava do apoio da população americana e de todo o mundo, e dos exemplos de superação em meio a um dos momentos mais dolorosos da história dos Estados Unidos.
Superação, aliás, é o lema de uma campanha promovida pelo Consulado dos Estados Unidos no Brasil, que criou um site em que internautas podem deixar seu depoimento sobre o 11 de Setembro.
Fumaça e cheiro da morte
Entre as lembranças mais marcantes para Daly está o “cheiro da morte” que exalava dos escombros e “parecia impregnar a pele por vários dias”. Um dia, enquanto tomava banho no quartel após um dia inteiro de trabalho, uma luminosidade que vinha de fora do quartel chamou a atenção do oficial. Eram 200 moradores das redondezas que caminharam com velas acesas até o prédio da corporação para prestar apoio, rezar e cantar de mãos dadas o hino não oficial americano, a canção “God Bless America”.
O oficial reformado lembra também do bombeiro que estava de folga em Nova York, se apresentou para trabalhar voluntariamente e nunca mais voltou. Antes de seguir para o resgate, ele chegou a pedir que avisassem a mulher e a filha que as amava. Recorda ainda o colega socorrista que passou 11 dias nos escombros até encontrar o corpo do irmão.
- Emocionalmente era terrível, mas o apoio da população fez uma grande diferença. Existe hoje entre os americanos um certo sentimento de frustração, cólera e vulnerabilidade. Mas a minha esperança é que essa reação não cause o fechamento da nossa sociedade, mas sim a sua abertura.
Alô para os bombeiros do Rio
Dan Daly serviu por 24 anos no Corpo de Bombeiros da Cidade de Nova York. Sua atuação no 11 de Setembro lhe rendeu a medalha da Liberdade, homenagem concedida pelo Senado de Nova York. Desde então, a pedido do Departamento de Estado e de outras organizações, o oficial reformado tem feito palestras em todo o mundo.
Daly, que já esteve no Brasil várias vezes, mandou um "alô" para os bombeiros do Rio ao comentar como o episódio mudou a estratégia da corporação diante de emergências do tipo.
- Alô bombeiros do Rio de Janeiro! Pertencemos a uma família muito grande.
A mais recente visita ao país foi em julho, quando Daly veio ao Rio para conversar com estudantes, policiais e moradores da Cidade de Deus e do Complexo do Alemão. Naquela ocasião, ele veio acompanhado de veteranos gravemente feridos nas guerras do Iraque e do Afeganistão, que vieram participar da maratona internacional do Rio de Janeiro.
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