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terça-feira, 15 de maio de 2012

UFCnews - Anderson Silva na essencia - EMOCIONANTE

“Não ficaria surpreso se Anderson Silva parasse depois de lutar com Sonnen. Não há adversários à sua altura no UFC. Ele sabe disso.” Eduardo Ohata, autor da biografia do melhor lutador de MMA de todos os tempos…

reproducao4477 Não ficaria surpreso se Anderson Silva parasse depois de lutar com Sonnen. Não há adversários à sua altura no UFC. Ele sabe disso. Eduardo Ohata, autor da biografia do melhor lutador de MMA de todos os tempos...
Anderson Silva.
"O maior lutador de MMA de todos os tempos."
A definição é de Dana White.
O presidente do UFC não morre de amores por ele, mas reverencia o seu talento.
É obrigado.
Anderson é campeão dos médios desde outubro de 2006.
Foram nove defesas de cinturão.
Quebrou todos os recordes da entidade.
É cultuado no Japão, na Inglaterra e, principalmente, nos Estados Unidos.
Quase um semideus.
Mas no Brasil nunca teve essa notoriedade.
E isso sempre o incomodou.
Com o UFC disposto a fazer valer o ditado que é o esporte que mais cresce no mundo...
Os irmãos Fertitta, donos do evento, resolveram incluir o Brasil no circuito.
E lógico que Anderson foi a estrela principal do UFC no Rio.
A partir deste vendo, decidiu que a hora havia chegado.
Seria conhecido no seu país.
Virar um ídolo nacional, como sempre foi seu sonho.
E passou a fazer uma contínua peregrinação em programas de tevê.
Foi para rádio, falou a jornais, sites.
Mas nunca foi tão profundo, intenso como na sua corajosa biografia.
Anderson escolheu com cuidado a quem iria contar a vida sofrida que teve.
E a reviravolta no destino que o transformou no maior lutador de MMA de todos os tempos.
Eduardo Ohata foi o jornalista privilegiado que ouviu sua história.
Responsável pela coluna mais respeitada de bastidores do futebol brasileiro, o Painel.
Ohata é também um especialista em boxe e artes marciais.
O jornalista conseguiu revelações incríveis do reservado Anderson.
Como a que chegou a pegar uma arma para matar o treinador Rafael Cordeiro.
O sentimento de culpa que carrega por não ter recursos quando sua filha morreu nos seus braços.
Ter perdido os cabelos que desejava lisos passando um creme chamado Alisabel.
E inúmeras outras.
O livro se chama O Relato de Um Campeão. Nos Ringues e na Vida.
O Brasil começa a conhecer de verdade Anderson Silva.
Ninguém melhor de quem teve o privilégio de partilhar a intimidade de Anderson para decifrá-lo.
Em entrevista exclusiva com Eduardo Ohata a oportunidade de entendê-lo.
O Anderson está com 37 anos. Até quando o Anderson vai lutar?
Eu tenho a nítida impressão que essa luta contra o Chael Sonnen pode decidir seu destino. Ele já é campeão dos médios há seis anos. Não há ninguém mais na categoria com chance de brigar de verdade pelo cinturão. O Sonnen é a última esperança do UFC, dos fãs que desejam um combate disputado. Na histórica luta entre eles, o Anderson estava com uma costela trincada. E o Chael dopado. Mesmo assim, o brasileiro ganhou. Se vencer novamente sabe que não há na sua categoria alguém para ameaçá-lo. Eu não ficaria surpreso até se ele resolvesse parar de lutar. O seu espírito não é de uma pessoa que vai ficar lutando até não poder mais. Muito pelo contrário, o Anderson quer parar no auge, para ser lembrado. O motivo é simples. Sua alma é de professor, não de lutador. Seu sonho é montar uma rede de academias de MMA pelo Brasil e talvez até nos Estados Unidos. Tenho a certeza que ele está usando as lutas para se tornar uma legenda. E usar a sua fama para atrair alunos e dar aulas. Ele não tem raiva, sentimento de vingança, ódio. O Anderson se tornou o maior lutador de MMA de todos os tempos tirando o sentimento das lutas. Ele é frio, calculista e estuda demais os adversários. E a cada vitória ele sabe que fica mais famoso, mais rico e mais próximo de parar e voltar a dar aulas, como fazia quando nem era ainda lutador.
Por que o Anderson Silva é tão vitorioso?
Porque ele desenvolveu o dom natural estudando, ralando muito. Desde menino lutou taekwon-do, jiu-jitsu, muay thai, boxe, capoeira. Naturalmente foi se preparando para o MMA sem querer. E ele mergulhou de cabeça em cada estilo. Ele é paulistano, mas cresceu em Curitiba, criado pelos tios. Sua educação foi rígida, firme como um militar. Anderson tem uma disciplina que foge do normal. Perfeccionista, ensaia um golpe que vê ou imagina até deixá-lo perfeito. Como em todos os fenômenos esportivos, ele seu instinto aguçado antecipa o golpe do adversário. Não só sabe como neutralizá-lo como contragolpear, aplicar um chute, soco ou finalização que o rival não espera. A luta se desenvolve antes na sua cabeça. Ele é um gênio dentro do octógono. E tem outra característica importante. O seu poder esquiva é enorme e não se machuca. E também não tem interesse em machucar ninguém. Quer logo finalizar a luta e seguir sua vida. Sabe da importância do show no UFC, mas para ele é o seu trabalho. O faz da melhor maneira possível. Suas lutas são tecnicamente incríveis.
O presidente do UFC, Dana White, detesta o Anderson? O que ele fez em Dubai, com Damien Maia, não dá razão ao americano?
O Dana não pode detestar o Anderson já que ele é o seu melhor lutador. E de todos os tempos. Ninguém ganhou tantas lutas de maneiras fulminantes, empolgantes como ele. O que acontece é que o Anderson é um monge. Ele gosta de treinar, ensinar, se aperfeiçoar. Não curte ficar promovendo lutas e o UFC como Dana White gostaria. Mas ele sabe muito bem o que significa de lucro, de pay-per-view as lutas do Anderson. O que houve em Dubai foi ruim para o Anderson. Ele ficou ofendido com o Demian Maia. O Demian disse que não o respeitava como homem. Isso foi fatal. Mexeu com a honra dele. Anderson sabe da necessidade de promover a luta, de um atletar provocar e até ofender o outro atleta. Mas não o homem. Ele tem um código de conduta como um samurai. Não admite que ofendam sua honra. O que fez no octógano foi se vingar. Batia um pouco, xingava, provocava. Não quis acabar logo a luta, só xingar, humilhar Demian. Foram cinco assaltos dessa loucura. O Dana ficou louco. Nem quis colocar o cinturão no Anderson. Ele havia conseguido levar o UFC para Dubai, buscar mais dinheiro e adeptos ao MMA. E Anderson resolve fazer tudo menos lutar contra o Demien. Na coletiva, Dana White disse que pela primeira vez ficou envergonhado por ser presidente do UFC. Estava vexado pelo que o brasileiro havia feito. Anderson estava perto, mas como não entendia inglês, só sabia que Dana estava irritado. Depois de alguns dias, quando soube tudo o que Dana disse, ele garantiu que iria embora da coletiva e iria pensar se continuaria no UFC. Depois dessa luta, os empresários de Anderson resolveram contratar uma pessoa só para cuidar da sua imagem. A reação mundial foi de indignaçao por esse combate.
Mas o Anderson tem uma postura arrogante, prepotente. Não é um ídolo simpático, embora se esforce...
Eu também tinha essa mesma impressão antes de escrever sua biografia. Ele é muito reservado. Criou um personagem que agrada a mídia, os fãs, mas nunca abre brecha para maiores contatos. É exatamente isso que busca, pouca intimidade. Para os amigos ele é uma pessoa alegre, simpática, muito leal. Tem treinadores fantásticos que sabem que ele é o melhor do mundo. Mas com a noção da realidade. Não o deixam deslumbrar, eles são firmes para mantê-lo com os dois pés na Terra. Sabem que neste mudo do MMA, um soco na cara transforma o melhor do mundo no pior. O Anderson tem de agradecer mesmo ao Minotauro. Ele dá bronca, cobra, mostra erro, exige que evolua. O Minotauro vive repetindo ao treinadores de Silva: 'técnico não pode ser fã. Se for não presta'. A definição é brilhante e ninguém dá moleza ao Anderson. Isso segura o seu ego. Ele acaba expondo ao consumo da mídia o personagem. As pouquíssimas pessoas que chegam perto dele descobrem que é um monge, alegre, simples e muito fiel aos amigos. Fiel. Vou dar um exemplo de como isso conta. Ele treinava junto com Vitor Belfort. E nunca esperava que ele aceitasse enfrentá-lo pelo título. Considerou o desafio uma traição à amizade que tinham. E foi para o combate disposto a mostrar que, nem por cinturão, amigo vira as costas a um amigo de verdade. Mostrou. Com aquele chute que acabou com a luta, Anderson fez Vitor pensar que não valeu a pena enfrentar o amigo.
Quando Anderson Silva virou Anderson Silva?
Foram em dois momentos. Um bem dramático. Quando ele era pobre e apenas dava aulas de jiu-jitsu. Sua segunda filha morreu nos seus braços. Nasceu prematura, seus órgãos não estavam formados. Não resistiu. Sua morte lhe deu trouxe um sentimento de culpa fortíssimo. Ele acredita até hoje se tivesse mais recursos, mais dinheiro, ela talvez tivesse sobrevivido. Foi aí que decidiu que sempre teria recursos de sobra para se um filho seu precisasse de qualquer cuidado médico. Teria dinheiro para cuidar da família em qualquer ocasião. O segundo momento decisivo foi a conquista do seu primeiro cinturão no Shooto, evento no Japão. Foi quando se descobriu um lutador especial, que poderia enfrentar qualquer um. Foi quando comparou seu talento com os demais. A conquista lhe deu a confiança que mostra até hoje. A culpa pela morte da filha e o gosto da primeira vitória marcante estão presente nele até hoje. Em qualquer octógano que pise.
A superioridade do Anderson Silva faz bem para o UFC? Ele quer lutar com o Jon Jones? Com o George Saint Pierre?
Para alguém entender a importância do Anderson ao UFC basta comparar ao Ali no boxe. Os lutadores que o enfrentaram e perderam são muito talentosos, fizeram história. Mas acontece que encontraram alguém fora do normal, que transcendeu. O UFC tem de agradecer ter surgido alguém como ele. E não lamentar se as lutas terminam cedo, nos primeiros rounds. Na categoria médios, como já disse, só restou o Sonnen. Depois não há mais ninguém. O Anderson tem tudo, para se quiser, ficar com o cinturão por anos. Em relação à sonhada luta diante do Jon Jones, não há a intenção de acontecer. Por um motivo muito simples. O Anderson teria de engordar para enfrentar Jones na sua categoria, meio pesado, até 93 quilos. O Anderson luta pelos médios, até 84 quilos. São nove quilos de diferença. Ele perderia sua velocidade e daria toda a chance para o americano, que também é um talento, massacrá-lo. A disparidade de peso inviabiliza a luta. Até porque o Jones não quer descer de categoria, perder peso para enfrentar o Anderson. Aí seria ele que perderia força, vigor físico. O mesmo se aplica com George Saint-Pierre. Luta como meio médio, até 77 quilos. São sete quilos a menos que o brasileiro. Ele não vai engordar e perder velocidade. E o Anderson não vai emagrecer. É a mesma coisa. São supercampeões os três, não vão se expor a um vexame por dinheiro. Não precisam. Essas lutas só vão acontecer no vídeo game. Na realidade, é inviável aos lutadores.
Muito se fala também sobre a vaidade do Anderson. Até onde ela vai?
Ele é um homem assumidamente vaidoso. Passa creme no rosto e tudo mais. A busca pela beleza cobrou seu imposto. Ele é negro e queria alisar os cabelos. Passou muito um creme chamado Alisabel. O resultado foi um desastre. Seus cabelos caíram. Ficou careca. O Anderson adora e sabe dançar muito bem. É um dom que tem a ver com o controle dos movimentos do corpo. Quando era criança antes de começar a lutar, foi para o balé. Adorava. Não se importava com as crianças o provocando, chamando de bichinha. Ele sempre foi muito bem resolvido com isso. Teve várias mulheres. O Anderson adora imitar o Michael Jackson e tem muito talento dançando. As aulas de balés foram marcantes. Se não lutasse, poderia ser um ótimo bailarino.
A história que ele chegou a pegar uma arma para matar o técnico Rafael Cordeiro é terrível...
Ele foi mesmo com um revólver até a frente da academia Chute Boxe em Curitiba para matar o Rafael. Ele havia proibido Anderson de dar aulas de jiu-jitsu sem ser faixa preta. Não importava que fosse em outra academia. Rafael Cordeiro não só falou, mas deu um tapa na cara de Anderson Silva. Ele ficou humilhado e pediu para um amigo lhe arrumar um revólver para matar Rafael. Os dois foram para a frente da Chute Boxe. Mas na última hora, Anderson desistiu. Seu amigo quis matar Rafael para ele, mas Anderson o segurou e disse que havia desistido da ideia. "Foi uma questão de índolo", me disse repetiu várias vezes Anderson. Foi o que melhor poderia ter acontecido. Se tivesse matado Rafael, o mundo não conheceria Anderson.
Você acredita que o MMA chegou de vez para o Brasil? O seu crescimento é incrível...
Eu quero ver o que há de modismo e o que vai sobrar. Acompanho o UFC há quase 15 anos, desde o início. A sua popularização no Brasil tem muito a ver com a qualidade desta geração de lutadores: Anderson Silva, José Aldo, Cigano, Minotauro, Shogun. É empolgante ver um brasileiro campeão do mundo, sendo dono de cinturão. Eles fazem parte da elite do mundo das lutas. A propaganda que o UFC faz é massacrante. Acho que ainda muita gente vive a empolgação da novidade. Vamos ver o que vai sobrar quando tudo fizer parte da normalidade. Estamos ainda sob o efeito da febre. Temos três campeões do UFC: o Anderson, o Cigano e o José Aldo. É eles são lutadores empolgantes. Por enquanto está excelente. O Brasil não pode ser massacrado por eventos. O primeiro UFC no Rio foi maravilhoso. O segundo, nem tanto, com lugares sobrando, você estava lá e viu. O terceiro agora será sem o combate entre Anderson Silva e Sonnen, no Mineirinho. É preciso saber dosar, deixar o interesse aceso.
Três situações me perturbam no UFC. A pesagem que transforma em injustos vários combates. As punições muito leves por doping. E os donos do UFC estarem ligados ao mundo dos cassinos, onde as apostas nas lutas são milionárias.
Eu concordo com você em relação à pesagem. O UFC imitou o boxe. Os lutadores costumam ter um peso e secar de forma rápida e radical para o dia da pesagem. Muitos chegam a perder sete, oito quilos no dia. E 24 horas depois, na hora da luta, estão com grande parte desses quilos. Pior para quem tem metabolismo lento ou que não luta de verdade na sua categoria. Levam enorme desvantagem. Já se tentou fazer a pesagem no dia das lutas, mas os atletas chegavam a ela muito desgastados para perder peso. E caía a qualidade dos combates. Não me preocupo com as altas apostas feitas nos cassinos. Os resultados dos combates no UFC nunca levantaram suspeitas. Agora o que admito é esse desleixo com o doping. O Sonnen como exemplo. Ele lutou dopado contra o Anderson. Ficou seis meses suspenso. É o tempo médio que lutadores ficam sem poder combater. Não concordo. Mas no resto, o UFC é bem organizado demais. É uma máquina de promoção, entreter e fazer dinheiro.
Como você acredita que será a luta entre o Anderson e o Sonnen? E como você pode resumir o Chael Sonnen?
A luta será perigosa para o Anderson. Vou usar o boxe para explicar. O Frazier ganhou do Ali. O Ali humilhou o Foreman. O Foreman massacrou o Frazier. É uma questão de estilo. O Sonnen pegou como ninguém o tempo de queda do Anderson. Na primeira luta entre os dois, o derrubou como quis. Perdeu no finalzinho, mas havia ganho o combate, se não fosse o sensacional triângulo do brasileiro. É preciso descontar o fato de o Anderson ter lutado com uma costela fissurada e o doping do Sonnen. Mas tenho receio desta luta. Quanto ao Sonnen ele é imbecil. Passou da conta na promoção das lutas. Dizer que todos cheiram cocaína no Brasil, que vai invadir a casa do Anderson para dar um tapa no traseiro da sua mulher... É um palhaço do mal. O UFC elimina um lutador porque resolveu brincar sobre estupro. O Sonnen ofende um país e nada acontece. Ele está manchando a imagem do UFC. Dana White tem de acordar e eliminar esse boçal que só está atrapalhando o esporte.
Você entrevistou também o Mike Tyson, que comparação faz ao Anderson Silva?
São dois gênios das lutas. Atletas fenomenais. Que marcarão esta e as próximas gerações. Mas com uma grande diferença. Embora os dois tenham surgido da pobreza, de famílias desestruturadas, Mike Tyson não teve quem o orientasse na infância, na adolescência. E acabou se perdendo ao virar homem. Anderson Silva, não. Teve um tio que lhe deu disciplina, valores na vida. Ele é determinado e centrado como Bruce Lee por causa da educação firme dada por seu tio em Curitiba. Ele o preparou para a vida. O trauma da sua morte também pesa demais para Anderson Silva. Sua identificação com o Homem Aranha tem a origem pelos dois terem sido criados pelos tios. E como o super-herói, Anderson não pôde evitar a morte do tio que era mais do que um pai para ele. Por isso escolheu o mais triste dos heróis para usar o apelido. Ao entrar para lutar, todos sabem: lá vem Anderson 'Spider' Silva. O melhor lutador de MMA de todos os tempos...

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